12.7.10

pequena crônica abandonada


vinte e uma e quarenta e cinco da noite e eu não estava lá. quinze minutos depois, passávamos a limpo os enigmas da história universal. a gênese de sempre: casais, relacionamentos, maturidade, fidelidade, alguns equívocos possíveis. era para ser uma terapia de bar, o coração do rapaz estava trucidado. "minha mãe havia alertado,'não vá fazer bobagem, você mal conhece essa menina", mas quem se conhece? pensava o infeliz.
quase onze da noite, as palavras ainda estavam alagadas com o carro por causa das chuvas de são paulo e então chegaram os pratos.

(calabreza do estadão. a lingüiça – ainda com tremas – vem aberta ao meio, prensada e tostada na chapa. o vinagrete em cima formava uma bonita composição com os tomates incolores. parecia refrescar a áspera superfície terracota daquele pedaço de porco arreganhado.)

ele rabiscava no ar com um palito de batata frita a sua filosofia; "você tem razão, quando acaba o respeito, acaba a casa." seus olhos revelavam mais cicatrizes na alma que um disco do bowie.
meu amigo é um desses caras bonitos com cara de gringo sujo e imoral. porém, sujeito fino e sensível, padece do mal que implica a sua aparência contrária. a fama ruim era boa. a questão era evidente, por que não aproveitar então?
o balcão já parecia vazio, mas sabíamos que naquele momento estavam conosco ana, maria, juliana, paula, natália, fernanda, thaís, bruna, janaina, melissa, lúcia, tatiana, beatriz, vera, helô, mariana, enfim, todas as filhas da chiquita bacana que num átimo perpétuo eram fragrâncias de memória.
um rosto nos cortou de volta à realidade. "mano, me paga um sanduíche?"
antes de abrir a porta do carro, resmungou alguma coisa novamente sobre a enchente.
no fim da noite estávamos salvos.

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