25.11.11

senza macchina _ 2


fim de feira.

o cara só da banda foi embora e os fiscais já chegam.

uma bola amarela pula na escola sem quadra.


um homem negro de quase cinqüenta anos frita na jaqueta preta de couro.

ele está no meio da rua e parece fingir que fala com alguém

enquanto procura o pau perdido na braguilha aberta.

depois, disfarça uma dança andada até a sombra.


a adolescente carrega uma caixa e uma barriga morena maior que ela.

que a caixa, digo.

ela deixa para trás alguns argumentos roucos de estudantes.

talvez tenham se conhecido algum dia.


papéis, folhetos, reclames, reclamações.

carregadores-gnus, trôpegos de braços e enxertados na função eram muito maiores em seus mundos.

a menina leve de blusinha verdeágua desfilava coque, nariz brilhante e sorriso fino.

era uma nascente.


do outro lado da calçada, a mulher rinoceronte fuma.

decido, então, tomar uma cerveja.

talvez esqueça a braguilha aberta.


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senza macchina _ 1


conversávamos e a luz entrou no tempo de um café frio. ouvimos a janela no primeiro silêncio.

'como é mesmo o nome do cara que faz todos os barulhos ao mesmo tempo?'

como? 'é, na frente, atrás, por todos os lados.' com os instrumentos, você quer dizer;

'sim, com os instrumentos. é o homem de uma banda só.'

desenhei as palavras nos olhos dela durante algum instante e, quando as entendi, fui até a varanda procurar o fulano, e lá estavam a copa de amendoeira e a feira (as quintas-feiras têm as suas próprias cores) e entre uma e outra lá ia ele frisando o mercado, vestindo amarelo velho e vento.

cantava o dia com as barracas, voava música muito além do corpo. era um forró com a cara à banda e voz, tambores, pombos e escola.


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