22.10.08

a volta do fabuloso homem-caixa




















as origens, primeira parte.

eram três as empilhadeiras que jogavam porrinha na zona cega do pátio. mal acabara de chover e o chão já estava repleto de espelhos. um imenso quadro falso de pollock caprichado pelos pombos e três pequenas e duras pinceladas laranjas no canto da cena. quero dizer, duas – uma acabou de ficar fora do jogo. É o tipo estranho de máquina que tem a sensibilidade de cem camelos de ferro. estimulada pela vibrante peleja de palitinhos, decide, vou fumar. não vá incendiar o galpão, trepidou uma voz de parafusos frouxos, a mesma que ouviu vou incendiar é o seu rabo, palhaço.

se afastou em direção à sombra, até ser notada apenas pela brasa que piscava no escuro a cada tragada. a fumaça cinza-branca fugia do breu igual a pensamento. o que ruminava? outro dia veio à cabeça: o artigo de gênero para empilhadeira é feminino, mas eu sou masculino, pô. e, cá entre nós, o clark é mesmo uma máquina. empilha geral, de um jeito até pouco discreto para um modelo elétrico. ainda que muito interessante (principalmente a parte sobre desmontes), pouparemos os mais jovens dos detalhes picantes e pouco ortodoxos da sua vida sexual. podemos dizer, contudo, que desenvolveu técnicas não muito precisas – mas eficazes – ao usar criativamente as ferramentas certas ao alcance das alavancas, como o seu vasto sortimento de alicates de pressão, alicates para anéis, alicates de corte, brocas, pistolas de ponto estreboscópicas, jogos de fenda, torquímetros, soquetes tailandeses e um sofisticado macaco hidráulico telescópico. o fato é que a carcaça modorrenta e o design ultrapassado de clark encobrem algo bem mais profundo nesta máscara de luxúria besuntada de óleo .

corre à boca pequena que ele esconde a identidade da misteriosa drag empilhadeira de copacabana.  na verdade, existe um segredo tumular guardado naquele rotorzinho anti-ruídos.
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NOTA EXTRAORDINÁRIA. o sindicato das(os) empilhadeiras(ores) elétricas(os), manuais, a combustão e portuárias(os) ganhou recurso que obriga o autor deste blog a dar alternativa de gênero quando forem citadas(os) textualmente as(os) empilhadeiras(ores). este blog refuta de forma contundente a atitude do(a) sindicato(zinho)(zinha), por se tratar  de um problema diacrônico léxico intercontinental, além de se reservar ao direito de não se intrometer na orientação sexual de seus (suas) personagens. para evitarmos possíveis transtornos na compreensão da história e, sobretudo, por assumirmos uma postura ética bem definida com os nossos leitores, a partir dos próximos capítulos chamaremos as(os) empilhadeiras(ores) de hamsters.

2 comentários:

Unknown disse...

publica, publica! :-)*
realismofantásticourbanoinclassificavelmucholoco. e o arquinimigo, então! :-)***

Pardal disse...

escreve como pollock. várias cores entram, nada sai.